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domingo, 3 de abril de 2011

O GRANDE DESCONHECIDO (CURSO DINÂMICO DE ESPIRITISMO por J. Herculano Pires, pg. 11 a 13)

Todos falam de Espiritismo, bem ou mal. Mas poucos o conhecem. Geralmente o consideram como uma seita religiosa comum, carregada de superstições. Muitos o vêem como uma tentativa de sistematização de crendices populares, onde todos os absurdos podem ser encontrados. Há os que o aceitam como nova Goécia, magia negra da Antigüidade disfarçada de Cristianismo milagreiro. Grandes cientistas se deixaram envolver nos seus problemas e se desmoralizaram. Outros entendem que podem encontrar nele a solução para todos os seus problemas, conseguir filtros de amor e os 13 pontos da Loteria Esportiva. E na verdade os seus próprios adeptos não o conhecem. Quem se diz espírita arrisca-se a ser procurado para fazer macumba, despachos contra inimigos ou curas milagrosas de doenças incuráveis. Grandes instituições espíritas, geralmente fundadas por pessoas serias, tornam-se as vezes verdadeiras fontes de confusão a respeito do sentido e da natureza da doutrina. O Espiritismo, nascido ontem, nos meados do século passado, é hoje o Grande Desconhecido dos que o aprovam e o louvam e dos que o atacam e criticam.

Durante muito tempo ele foi encarado com pavor pelos religiosos, que viam nele uma criação diabólica para perdição das almas. Falar em fenômenos espíritas era provocar votos de esconjuro. Ler um livro-espírita era pecado mortal, comprar passagem direta para o Caldeirão de Belzebu. Médicos ilustres chegaram a classificar o Espiritismo como fábrica de loucos. Quando começaram a surgir os hospitais espíritas para doenças mentais, alegaram que os espíritas procuravam curar loucos que eles mesmos faziam para aliviar suas consciências pesadas. E quando viram que o Espiritismo realmente curava loucos incuráveis, diziam que os demônios se entendiam entre si para lograr o povo.

Hoje a situação mudou. Existem sociedades de médicos espíritas e as pesquisas de fenômenos mediúnicos invadiu as maiores Universidades do Mundo. Não se pode negar que a coisa é séria, mas definir o Espiritismo não é fácil. Porque ninguém o conhece, ninguém acredita que se precisa estudá-lo, pensam quase todos que se aprende a doutrina ouvindo espíritos. Os intelectuais espíritas são confundidos com médiuns. Quem escreve sobre Espiritismo não escreve, faz psicografia. Acham que para estudar a doutrina é preciso desenvolver a mediunidade e receber maravilhosas lições de Espíritos Superiores.

Não obstante, o Espiritismo é uma doutrina moderna, perfeitamente estruturada por um grande pensador, escritor e pedagogo francês, homem de letras e ciências, famoso por sua cultura e seus trabalhos científicos e que assinou suas obras espíritas com o pseudônimo de Allan Kardec. Saber isso já é saber alguma coisa a respeito, mas está muito longe de ser tudo sobre esta  Doutrina complexa, que abrange todo o campo do Conhecimento, apresenta-se enquadrada na seqüência epistemológica de:

a) Ciência -- como pesquisa dos chamados fenômenos paranormais, dotada de métodos próprios, específicos e adequados ao objeto que investiga, tendo dado origem a todas as ciências do paranormal, até à Parapsicologia atual e seu ramo romeno, que se disfarça sob o nome pouco conhecido de Psicotrônica, para não assustar os materialistas.

b) Filosofia — como interpretação da natureza dos fenômenos e reformulação da concepção do mundo e de toda a realidade segundo as novas descobertas científicas; aceita Oficialmente no plano filosófico, consta do Dicionário Filosófico do Instituto de França; no Brasil, reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Filosofia, constando do volume Panorama da Filosofia em São Pauto, edição conjunta do Instituto e da Universidade de São Paulo, coordenação do Prof. Luiz Washington Vitta.

c) Religião — como conseqüência das conclusões filosóficas, baseadas nas provas da sobrevivência humana após a morte e nas ligações históricas e genésicas do Cristianismo com o Espiritismo; considerado como a Religião em Espírito e Verdade, anunciada por Jesus, segundo os Evangelhos; religião espiritual, sem aparatos formais, dogmas de fé ou instituição igrejeira, sem sacramentos.

d) Essa seqüência — obedece as leis da Gnosiologia, pelas quais o conhecimento começa nas experiências do homem com o mundo e se desenvolve nas ilações do pensamento, na cogitação filosófica e determina o comportamento humano dentro do quadro da realidade conhecida; como no Espiritismo essa realidade supera os limites da vida física, a moral se projeta no plano das relações do homem com a Divindade, adquirindo sentido religioso.

Colocado assim o problema, a complexidade do Espiritismo se torna facilmente compreensível. Tudo no Universo se processa mediante a ação e o controle de leis naturais, que correspondem à imanência de Deus no Mundo através de suas leis. Toda a realidade verificável é natural, de maneira que os espíritos e suas manifestações não são sobrenaturais, mas fatos naturais explicáveis, resultantes de leis que a pesquisa científica esclarece. O Sobrenatural só se refere a Deus, cuja natureza não é acessível ao homem neste estágio de sua evolução, mas o será possivelmente, quando o homem atingir os graus superiores de sua evolução. Todas as possibilidades estão abertas e franqueadas ao homem em todo o Universo, desde que ele avance no desenvolvimento de suas potencialidades espirituais, segundo as leis da transcendência.

Este volume procura dar uma visão geral do Espiritismo em forma de exposição livre, sem um esquematismo didático, mostrando as conotações da Doutrina com as posições culturais da atualidade. Não se trata da suposta atualização tentada por autores que desconhecem as dimensões do Espiritismo e não podem relacioná-la com os avanços científicos, tecnológicos, filosóficos e religiosos da atualidade. A atualização, no caso, é do método expositivo, que revela a plena atualidade da Doutrina e desenvolve alguns temas kardecianos em forma de exposição mais minuciosa, para melhor compreensão dos leitores. A atualização da linguagem e da terminologia doutrinárias nas obras de Kardec é uma pretensão descabida. Cada doutrina, científica ou filosófica, tem a sua própria terminologia, que só se transforma diante de novos fatos ocorridos na pesquisa. Por outro lado, essas atualizações, como sabem os especialistas, geralmente se transformam em atentados à doutrina, pela falta de conhecimento dos que pretendem fazê-las. Uma doutrina se atualiza na proporção em que evolui, com acréscimos reais de conhecimentos no desenvolvimento de seus princípios. Não existe, no mundo atual nenhum centro de pesquisas e estudos espíritas que tenha avançado legalmente além de Kardec, através da descoberta de novas leis da realidade espírita. O Espiritismo avança, pelos seus princípios e os seus conceitos, muito além da realidade atual. E mesmo que não avançasse, ninguém teria o direito de interferir na obra de Kardec, como na obra de qualquer outro cientista. É livre o direito de contestar através de outras obras, mas não há direito nenhum que permita a um pintamonos desfigurar as obras clássicas da cultura mundial.

Os capítulos deste livro correspondem a exposições doutrinárias feitas pelo autor em várias ocasiões, em palestras feitas com debates, até mesmo em numerosas Faculdades de Teologia católicas e protestantes, bem como em debates de televisão. Por isso, são capítulos escritos em linguagem livre, dando ao leitor a possibilidade de discutir os problemas consigo mesmo, tentando refutar as teses expostas. Esperamos que os meios espíritas, particularmente aproveitem estes capítulos para uma incursão mais corajosa nas possibilidades de conhecimento que o Espiritismo nos oferece em todos os campos das atividades humanas e em face dos múltiplos problemas que nos desafiam nesta hora de transição da cultura humana.

São anos de estudos, experiências, investigações e intuições espirituais que se acumulam nestas páginas, ao correr das teclas, mas sob rigoroso controle da razão. Que no Espiritismo tudo deve ser rigorosamente submetido a apreciações e críticas racionais.

3 - ESTUDANDO A RIQUEZA (Dinheiro - Chico Xavier, pelo espírito Emmanuel)

Não é somente o Rico da Parábola o grande devedor diante da vida.
A fortuna amoedada é, por vezes, simples cárcere.
Há outros avarentos que devemos recordar em nossa viagem para a Luz Maior.
* * *
Temos conosco, os sovinas da inteligência, que se ocultam nas floridas trincheiras da
inércia; os abastados da saúde que desamparam os aflitos e os doentes; os privilegiados
da alegria que cerram as portas aos tristes, isolando-se no oásis de prazer; os felizes da
fé que procuram a solidão, a pretexto de se preservarem contra o pecado; os expoentes
da mocidade que menosprezam a velhice; os favorecidos da família terrestre, que olvidam
os andarilhos da penúria que vagueiam sem lar.
Todos esses ricos da experiência comum contraem pesados débitos para com a
Humanidade.
* * *
Lembremo-nos de que o Tesouro Real da Vida está em nosso coração.
* * *
Quem não pode doar algo de si mesmo, na boa vontade, no sorriso fraterno ou na palavra
sincera de bondade e encorajamento, debalde estenderá as mãos recheadas de ouro,
porque só o amor abre as portas da plenitude espiritual e semeia na Terra a luz da
verdadeira caridade, que extingue o mal e dissipa as trevas.
* * *
A pobreza é mera ficção.
Todos temos algo.
Todos podemos auxiliar.
Todos podemos servir.
E, consoante a palavra do Mestre, ‘o maior na vida será sempre aquele que se fizer o
devotado servidor de todos.’

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ORAÇÃO E RENOVAÇÃO (DO LIVRO VINHA DE LUZ)



"Holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram." - PAULO. (HEBREUS,
10:6.)

É certo que todo trabalho sincero de adoração espiritual nos levanta a alma,
elevando-nos os sentimentos.

A súplica, no remorso, traz-nos a bênção das lágrimas consoladoras. A rogativa na aflição dá-nos a conhecer a deficiência própria, ajudando-nos a descobrir o valor da humildade. A solicitação na dor revela-nos a fonte sagrada da Inesgotável Misericórdia.

A oração refrigera, alivia, exalta, esclarece, eleva, mas, sobretudo, afeiçoa o coração ao serviço divino. Não olvidemos, porém, de que os atos íntimos e profundos da fé são necessários e úteis a nós próprios.

Na essência, não é o Senhor quem necessita de nossas manifestações votivas, mas somos nós mesmos que devemos aproveitar a sublime possibilidade da repetição, aprendendo com a sabedoria da vida.

Jesus espera por nossa renovação espiritual, acima de tudo.

Se erraste, é preciso procurar a porta da retificação.

Se ofendeste a alguém, corrige-te na devida reconciliação.
 
Se te desviaste da senda reta, volta ao caminho direito.

Se te perturbaste, harmoniza-te de novo.

Se abrigaste a revolta, recupera a disciplina de ti mesmo.

Em qualquer posição de desequilíbrio, lembra-te de que a prece pode trazer-te
sugestões divinas, ampliar-te a visão espiritual e proporcionar-te consolações
abundantes; todavia, para o Senhor não bastam as posições convencionais ou
verbalistas.
 
O Mestre confere-nos a Dádiva e pede-nos a iniciativa.
 
Nos teus dias de luta, portanto, faze os votos e promessas que forem de teu agrado e proveito, mas não te esqueças da ação e da renovação aproveitáveis na obra divina do mundo e sumamente agradáveis aos olhos do Senhor.

Emmanuel (Extraído do Livro Vinha de Luz, item 2. Psicografado por Francisco Cândido Xavier).

sábado, 29 de janeiro de 2011

APRENDER A AMAR - PELO ESPÍRITO ERMANCE DEFAUX

APRENDER A AMAR (EXTRAÍDO DO LIVRO LAÇOS DE AFETO, PRIMEIRA PARTE, CAPÍTULO 3, PELO ESPÍRITO ERMANCE DEFAUX)
Aprender a Amar

Escutamos freqüentemente frases que constituem atestados de incompatibilidade ou admiração instantânea em relacionamentos, emitidas rotineiramente nas diversas rodas de convivência, definindo alguns sentimentos que temos pelo outro como se fossem predestinados e definitivos. Convivemos, comumente, “ao sabor” daquilo que sentimos espontaneamente por alguém.

Consideremos nesse tema que o Amor não é um automatismo do sentir no aprendizado das relações humanas, como se houvessem fatores predisponentes e inderrogáveis para gostar ou não gostar dessa ou daquela criatura. Amar é uma aprendizagem. Conviver é uma construção. Não existe Amor ou desamor à primeira vista, e sim simpatia ou antipatia.

Amor não pode ser confundido com um sentimento ocasional e especialmente dirigido a alguém. Devemos entendê-lo como O Sentimento Divino que alcançamos a partir da conscientização de nossa condição de operários na obra universal, um “estado afetivo de plenitude”, incondicional, imparcial e crescente. Ninguém ama só de sentir. Amor verdadeiro é vivido. O atestado de Amor verdadeiro é lavrado nas atitudes de cada dia. Sentir é o passo primeiro, mas se a seguir não vêm as ações transformadoras, então nosso Amor pode estar sendo confundido com fugazes momentos de felicidade interior, ou com os tenros embriões dos novos desejos no bem que começamos a acalentar recentemente.

O Amor é crescente no tempo e uniforme no íntimo, não tem hiatos. Mesmo entre aqueles que a simpatia brota instantaneamente, Amor e convivência sadia serão obras do tempo no esforço diário do entendimento e do compartilhamento mútuo do desejo de manter essa simpatia do primeiro contato, amadurecendo-a com o progresso dos elos entre ambos. Sabendo disso, evitemos frases definitivas que declarem desânimo ou precipitação em razão do que sentimos por alguém. Relações exigem cuidados para serem edificadas no Amor, e esse aprendizado exige os testes de aferição no transcorrer dos tempos.

Se nos guardamos na retaguarda moral e afetiva, esperando que os outros melhorem e se adaptem às nossas expectativas para com eles, a fim de permitirmo-nos amá-los, então, certamente, a noção de gostar que acalentamos é aquela na qual ainda acreditamos que Deus faculta isso como Dom Divino e natural em nossos corações conforme a sua Vontade. 

Encontrando-nos nesse patamar de evolução, nada mais fazemos que transferir para o Pai a responsabilidade pessoal do testemunho sacrificial, na criação de elos de libertação junto a quantos esposam nossos caminhos nas refregas da vida. Amor não é empréstimo Divino para o homem e sim aquisição de cada dia na aprendizagem intensiva de construir relacionamentos propiciadores de felicidade e paz.

Espíritas que somos temos bons motivos para crer na força do Amor, enquanto a falta de razões convincentes tem induzido multidões de distraídos aos precipícios da dor, porque palmilham em decidida queda para as furnas do desrespeito, da lascividade, da infidelidade, da vingança e da injustiça, em decrépitas formas de desamor. A terapêutica do Amor é, sem dúvida, a melhor e mais profilática medicação do Pai para seus filhos na criação. Compete-nos, aos que nos encontramos à míngua de paz, experimentá-la em nossos dias, gerando fatos abundantes de Amor, vibrando em uníssono com as sábias determinações cósmicas estatuídas para a felicidade do ser na aquisição do glorioso e definitivo título de Filhos de Deus.

E se esse sentimento sublime carece aprendizagem, somente um recurso poderá promover semelhante conquista: a educação.

domingo, 23 de janeiro de 2011

EM SILÊNCIO ( Extraído do livro VINHA DE LUZ , Emmanuel. Psicografia de Chico Xavier)





4
EM SILÊNCIO

"Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos do Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus." - Paulo. (EFÉSIOS, 6:6.)




Se sabes, atende ao que ignora, sem ofuscá-lo com a tua luz.

Se tens, ajuda ao necessitado, sem molestá-lo com tua posse.

Se amas, não firas o objeto amado com exigências.

Se pretendes curar, não humilhes o doente.

Se queres melhorar os outros, não maldigues ninguém.

Se ensinas a caridade, não te trajes de espinhos, para que teu contacto não
dilacere os que sofrem.

Tem cuidado na tarefa que o Senhor te confiou.

É muito fácil servir à vista. Todos querem fazê-lo, procurando o apreço dos
homens.

Difícil, porém, é servir às ocultas, sem o ilusório manto da vaidade.

É por isto que, em todos os tempos, quase todo o trabalho das criaturas é
dispersivo e enganoso. Em geral, cuida-se de obter a qualquer preço as gratificações e as honras humanas.

Tu, porém, meu amigo, aprende que o servidor sincero do Cristo fala pouco e
constrói, cada vez mais, com o Senhor, no divino silêncio do espírito...
Vai e serve.

Não te dêem cuidado as fantasias que confundem os olhos da carne e nem te
consagres aos ruídos da boca.

Faze o bem, em silêncio.

Foge às referências pessoais e aprendamos a cumprir, de coração, a vontade de Deus.

QUEM LÊ, ATENDA (Extraído do livro VINHA DE LUZ, Emmanuel. psicografia de Chico Xavier)

1

"Quem lê, atenda." - Jesus. (MATEUS, 24:15.)


Assim como as criaturas, em geral, converteram as produções sagradas da Terra em objeto de perversão dos sentidos, movimento análogo se verifica no mundo, com referência aos frutos do pensamento.

Freqüentemente as mais santas leituras são tomadas à conta de tempero emotivo, destinado às sensações renovadas que condigam com o recreio pernicioso ou com a indiferença pelas obrigações mais justas.

Raríssimos são os leitores que buscam a realidade da vida.

O próprio Evangelho tem sido para os imprevidentes e levianos vasto campo de
observações pouco dignas.

Quantos olhos passam por ele, apressados e inquietos, anotando deficiências da letra ou catalogando possíveis equívocos, a fim de espalharem sensacionalismo e perturbação? Alinham, com avidez, as contradições aparentes e tocam a malbaratar, com enorme desprezo pelo trabalho alheio, as plantas tenras e dadivosas da fé renovadora.

A recomendação de Jesus, no entanto, é infinitamente expressiva.
É razoável que a leitura do homem ignorante e animalizado represente conjunto de ignominiosas brincadeiras, mas o espírito de religiosidade precisa penetrar a leitura séria, com real atitude de elevação.

O problema do discípulo do Evangelho não é o de ler para alcançar novidades
emotivas ou conhecer a Escritura para transformá-la em arena de esgrima intelectual, mas, o de ler para atender a Deus, cumprindo-lhe a Divina Vontade.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A EXPERIÊNCIA DE DEUS (EXTRAÍDO DO LIVRO AGONIA DAS RELIGIÕES, DE J. HERCULANO PIRES)

". . . O problema da experiência de Deus poderia ser resolvido com um mínimo de reflexão. Se Deus está em nós, e por isso somos deuses em potência, segundo a própria expressão evangélica, porque necessitamos de uma busca artificial de Deus para termos a experiência da sua realidade? Se fomos criados por Deus e se Deus pôs em nós a sua marca, como afirmou Descartes – a idéia de Deus em nós, que é inata – já não trazemos, ao nascer, a experiência de Deus? E se, no desenvolver da vida humana, o homem nada mais faz do que cumprir um desígnio de Deus, assistido pelos Anjos Guardiães, porque tem ele de buscar a Deus através de uma prática artificial e egoísta, procurando preservar-se sozinho num mundo em que a maioria se perde irremediavelmente? Moisés supunha ter ouvido o próprio Deus no Sinai, mas o Após-tolo Paulo explicou que Deus lhe falara através de mensageiros, que são anjos. As pessoas que buscam hoje a experiência de Deus em audiência privada serão mais dignas do que Moisés, não estarão sujeitas a ouvir a voz de um anjo, que tanto pode ser bom quanto mau, pois as próprias igrejas admitem que os anjos decaídos andam à solta pela Terra procurando roubar para o Inferno as almas de Deus? Quem estará livre, na sua piedosa tarefa de salvar-se a si mesmo, de ser tentado pelo Diabo, que tentou o próprio Jesus nas suas meditações solitárias no Deserto?

As práticas místicas do passado não servem para a era da razão, em que nos encontramos na antevéspera da era do espírito. Orar e meditar é evidentemente um exercício religioso respeitável e necessário em todos os tempos. A oração nos liga aos planos superiores do espírito e a meditação sobre questões elevadas desenvolve a nossa capacidade de compreensão espiritual. Mas o dogma da experiência de Deus através de um pretensioso colóquio direto e pessoal com a Divindade é uma proposição egoísta e vaidosa. Se Deus é o Absoluto e nós somos relativos, a humildade não nos aconselha a ter mais cautela em nossas relações pessoais com a Divindade? São muitos os casos de perturbações mentais, de obsessões perigosas, de lamentáveis desequilíbrios psíquicos decorrentes de exageradas pretensões das criaturas humanas no campo das práticas religiosas. A História das Religiões é marcada por terríveis experiências nesse sentido. Basta lembrarmos os casos de perturbações coletivas em conventos e mosteiros da Idade Média, onde os excessos de misticismo transformaram criaturas piedosas em vítimas de si mesmas, sujeitando-as não raro à própria condenação da igreja a que pertenciam e a que procuravam servir.

Os dogmas de fé, que formam a estrutura conceptual das igrejas, são as pedras de tropeço do seu caminho evolutivo. Partindo do princípio de que a Revelação Divina é a própria palavra de Deus dirigida aos homens, as igrejas se anquilosaram em seus dogmas intocáveis, pois a exegese humana não poderia alterar as ordenações ao próprio Deus. Na verdade, a alteração se verificou em vários casos, apesar disso, mas decisões conciliares puseram a última pá de cimento nos erros cometidos. As estruturas eclesiásticas tornaram-se rígidas e as igrejas confirmaram, no seu espírito, a ossatura de pedra de suas catedrais. Vangloriam-se ainda hoje da sua imutabilidade, num mundo em que tudo evolui sem cessar. Os resultados dessa atitude ilusória e pretensiosa só poderiam ser nefastos, como vemos atualmente no lento e doloroso processo de agonia das religiões. Incidiram assim no pecado do apego, contra o qual os Evangelhos advertiram os homens. Apegaram-se de tal maneira à própria vida, que perderam a vida em abundância que Jesus prometeu aos que se desapegassem. As liberalidades atuais chegaram demasiado tarde.

A palavra dogma é grega e seu sentido original é opinião. Adquiriu em filosofia e religião o sentido de princípio doutrinário. Nas Escrituras religiosas aparece algumas vezes com o sentido de édito ou decreto de autoridades judaicas ou romanas. Entre o dogma religioso e o filosófico há uma diferença fundamental. O dogma religioso é de fé, princípio de fé que não pode ser contraditado, pois provém da Revelação de Deus. O dogma filosófico é racional, dogma de razão, ou seja, princípio de uma doutrina racionalmente estruturada. O sentido religioso superou os demais por motivo das conseqüências muitas vezes desastrosas da sua rigidez e imutabilidade. Se falarmos, por exemplo, em dogmática, esse termo é geralmente entendido como designando a estrutura dos dogmas fundamentais de uma religião. Por isso, a adjetivação de dogmática, que implica também o masculino, corno nas expressões: pessoa dogmática, posição dogmática ou homem dogmático, significa intransigência de opiniões. O mesmo acontece com o substantivo dogmatismo, que designa um sistema de opiniões intransigentes.

Estas influências religiosas na semântica revelam a intensidade da rigidez a que as igrejas se entregaram, através dos séculos e dos milênios, na defesa da suposta eternidade de seus princípios básicos. Temos, portanto, no dogma de fé, um dos motivos fundamentais da crise das religiões em nossos dias. No Espiritismo, como em todas as doutrinas filosóficas, existem dogmas de razão, como o da existência de Deus, o da reencarnação, o da comunica-bilidade dos espíritos após a morte. Muitos adeptos estranham a presença dessa palavra nos textos de uma doutrina que se afirma antidogmática, aberta ao livre exame de todos os seus princípios. São pessoas ainda apegadas ao sentido religioso da palavra. Não há nenhuma razão para essa estranheza, como já vimos, do ponto de vista cultural.

O problema da religião no Espiritismo tem provocado discussões e controvérsias infindáveis, porque essa doutrina não se apresenta corno religião no sentido comum do termo. Allan Kardec, discípulo de Pestalozzi, adotava a posição de seu mestre no tocante à classificação das religiões. Pestalozzi admitia a existência de três tipos de religião: a animal ou primitiva, a social e a espiritual. Mas recusava-se a chamar esta última de religião, dando-lhe a designação de moralidade. Isso porque a religião superior ou espiritual, segundo ele, só era professada individualmente pela criatura que superava o ser social e desenvolvia em si o ser moral. Kardec recusou-se a falar em Religião Espírita, sustentando que o Espiritismo é doutrina científica e filosófica, de conseqüências morais. Mas deu a essas conseqüências enorme importância ao considerar o Espiritismo como desenvolvimento histórico do Cristianismo, destinado a restabelecer a verdade dos princípios cristãos, deformados pelo processo natural de sincretismo-religioso que originou as igrejas cristãs.

Essa posição espírita manteve a doutrina e o movimento doutrinário em posição marginal no campo religioso. Para os espíritas, entretanto, a posição da doutrina não é marginal, mas superior, pois o Espiritismo representaria o cumprimento da profecia evangélica da Religião em espírito e verdade, que se desenvolveria sob a égide do próprio Cristo. A religião espírita não se organizou em forma de igreja, não admite sacramentos nem admitiu nenhuma forma de autoridade religiosa de tipo sacerdotal. Não há batismo, nem casamento religioso no Espiritismo, nem confissões ou indulgências. Todos esses formalismos são considerados como de origem pagã e judaica. Entende-se o batismo como rito de iniciação, que Jesus substituiu pelo batismo do espírito, sendo este considerado como a iniciação no conhecimento doutrinário, feita naturalmente pelo estudo da doutrina, sem nenhum ato ritual. Admite-se também que o batismo do espírito, segundo o texto do Livro de Atos dos Apóstolos sobre a visita de Pedro à casa do centurião Cornélius, no porto de Jope, pode completar-se, nos médiuns, quando se verifica espontaneamente, com o desenvolvimento da mediunidade.

Essa posição espírita no campo religioso causou numerosas dificuldades aos espíritas no tocante às relações de instituições doutrinárias com os poderes oficiais, particularmente para a declaração de religião em documentos oficiais, para o resguardo dos direitos escolares em face do ensino religioso, para a declaração de religião nos recenseamentos da população, até que medidas oficiais reconheceram esses direitos. Em compensação, o Espiritismo ficou livre das conseqüências da crise religiosa, que não o atingiram. Demonstrarei nos capítulos seguintes a posição da Religião Espírita em face dessa crise, que é evidentemente uma posição de vanguarda. Sua contribuição para a racionalização dos princípios religiosos, para a reintegração da Religião no plano cultural, particularmente no tocante aos problemas científicos da atualidade, é realmente substancial. No campo filosófico a posição espírita é também vanguar-deira, pois desde o século passado sua filosofia se apresenta como livre dos prejuízos do espírito de sistema, conservando-se aberta a todas as renovações que decorrem de descobertas cientificamente comprovadas. Livre da dogmática religiosa e da sistemática filosófica, apoiada inteiramente na pesquisa cientifica, a doutrina está de fato a cavaleiro nas crises da atualidade. ( . . .)"

Assim, não há como (re)negar que  nosso Espiritismo é trino: é ciência experimental, na medida em que possui objeto próprio de pesquisa, com regras e métodos próprios de investigação que visam explicar o fenômeno da comunicação entre os mundos. É filosofia na medida em que estimula em nós que indaguemos sobre as questões fundamentais da Vida - de onde vimos? para onde vamos?  para que estamos aqui?

DEUS NA VISÃO ESPÍRITA - DIVALDO FRANCO